Esse é o melhor resultado para um semestre desde que o Banco Central começou a fazer o levantamento, em 1968.
No conceito de participação, a autoridade monetária considera a compra total ou parcial de uma empresa no exterior, inclusive por meio de uma maior participação acionária.
O resultado reflete uma forte recuperação em relação ao ano passado, quando os negócios somaram apenas US$ 1,1 bilhão, em função principalmente da crise econômica internacional.
Causas
Para especialistas, a retomada dos investimentos brasileiros no exterior é consequência, dentre outros fatores, da desvalorização de empresas estrangeiras, que ainda não se recuperaram da crise.
"Empresas americanas e europeias ainda não recuperaram seu valor de mercado. E como as brasileiras estão com dinheiro em caixa, puderam avançar no exterior", diz o professor Jase Ramsey, da Fundação Dom Cabral.
Outra razão, segundo ele, está em uma "vantagem artificial": a valorização do real frente ao dólar, que dá maior poder de compra às empresas brasileiras.
"Sem dúvida, o artíficio cambial ajuda. Mas ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que as companhias brasileiras conseguiram passar pela crise com dinheiro em caixa. É mérito delas também, que saíram da turbulência relativamente mais fortes", diz Ramsey.
Na avaliação do professor de comércio internacional da Fundação Instituto de Administração (FIA), José Roberto Araújo Cunha, a internacionalização das empresas brasileiras, além de ser uma questão de "sobrevivência" em certos setores, também traz "benefícios" para a economia interna.
"Aquele pensamento de que estaríamos exportando empregos é parte do passado. As empresas que vão para o exterior ganham competitividade e, assim, conseguem praticar preços interessantes para o consumidor brasileiro", diz.
Oportunidade
A lógica é a da "perda de oportunidade". Ou seja, se a empresa brasileira não entrar no mercado americano, por exemplo, companhias de outras nacionalidades – como chinesas e coreanas – vão ocupar esse espaço.
"E quando isso acontece, elas ganham escala e podem praticar preços menores. Já as brasileiras perdem espaço lá fora e ainda correm o risco de ter seu produto com competidores mais baratos inclusive no mercado doméstico", diz.
Cunha cita o setor de autopeças brasileiro como um exemplo de setor que já foi forte, mas que deixou de se internacionalizar e acabou perdendo competitividade.
Uma das empresas brasileiras que mais se internacionalizaram nos últimos anos, a Gerdau também está entre aquelas que aproveitaram para fazer negócios no semestre, com um investimento de US$ 1,6 bilhão na Ameristeel, baseada nos Estados Unidos, onde já era majoritária.
O professor da FIA diz que as empresas buscam espaço em outros mercados não apenas para ampliar seus lucros, mas também para ter acesso direto ao consumor – especialmente quando existem barreiras comerciais.
"Vários países impõem barreiras tarifárias ou não-tarifárias à importação de certos produtos. Muitas vezes, as empresas estrangeiras não conseguem exportar e acabam abrindo unidades nesses mercados", diz.
“As empresas brasileiras estão fazendo o que as asiáticas fizeram há 30 anos”, diz.
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