Em meio a muitos elogios, presidentes do Brasil e da Venezuela assinaram mais de 20 acordos bilaterais de cooperação ontem em Brasília.
A despeito da assinatura de 21 acordos para intercâmbios na área de alimentos, energia e petroquímica, uma nuvem cinza parecia pairar ontem sobre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao encontrar-se em Brasília com o colega Luiz Inácio Lula da Silva. Questionado pelo Correio/Diario sobre qual seria o motivo da "chateação" de Chávez, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou que a questão era o impasse no sistema de câmbio venezuelano na liberação dos dólares para pagamento dos empresários brasileiros.
"As empresas (brasileiras) dizem que está havendo um atraso, que não sai o dinheiro", disse o ministro, acrescentando que Chávez teria pedido já no ano passado ao então ministro venezuelano da Economia: "Quero que isso se resolva". Os atrasos decorrem das restrições levantadas pelo Cadastro de Administração de Divisas (Cadiv), órgão venezuelano responsável por liberar (ou não) os dólares para os empresários do país honrarem seuscompromissos no exterior.
Miguel Jorge reconhece que o valor devido ao Brasil "não são amendoins": "São US$ 15 milhões em atraso, que fazem parte de um fluxo de comércio de US$ 5 bilhões". No total, os venezuelanos importaram do Brasil US$ 4,5 bilhões em 2009. No 17° encontro bilateral entre Lula e Chávez, chamaram a atenção os contratos para venda de produtos alimentícios de empresas específicas, como Sadia e Portal do Boi, à estatal venezuelana Casa, que oferece alimentos à população de baixa renda.
O governo brasileiro acertou ainda um acordo para a empreiteira Odebrecht construir casas populares no país vizinho. O programa terá assessoria da Caixa Econômica Federal, que já mantém escritório em Caracas. Lula destacou que é preciso trabalhar agora para que o Brasil possa "comprar mais da Venezuela" e diminuir a grande diferença na balança comercial. Um projeto petroquímico de US$ 2 bilhões entre a brasileira Braskem e as venezuelanas PDVSA e Pequiven também foi assinado.
Democracia - O tema das liberdades políticas veio à tona em dois momentos. Primeiro, no discurso de Lula dirigido ao colega venezuelano. "O Brasil, que é a maior economia da América Latina, que tem a maior população, o maior território, está vivendo neste momento seu mais longo de período contínuo de democracia: 25 anos", destacou o presidente. Lula afirmou que se trata de uma democracia muito nova, em um continente marcado por uma "história de golpes e contragolpes, de pessoas que se achavam no direito de tirar do poder os democraticamente eleitos". E foi aplaudido quando disse que "o povo venezuelano e o brasileiro sabem que, apesar da língua, da fronteira" devem se comportar "como um povo de um grande país chamado América".
Minutos depois, Chávez teve de responder à imprensa brasileira sobre quando pretende deixar o poder, e sofreu com a comparação a Lula, cujo mandato termina em dezembro. "Vocês vão eleger um novo presidente. Eu não tenho isso previsto. Não tenho sucessor à vista, nem sucessão", afirmou Chávez.
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